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Psoríase

O que é a psoríase?

 

A psoríase é uma doença autoimune, inflamatória e crónica cujos sintomas se manifestam sobretudo ao nível da pele. No organismo de um indivíduo com psoríase, a velocidade a que ocorre o ciclo de crescimento das células, estimulado pelo sistema imunitário, é superior à normal. A doença afeta, em média, 1% a 3% da população mundial e, regra geral, os indivíduos com idades compreendidas entre os 15 e os 30 anos apresentam maior propensão para contrair a doença, no entanto, a psoríase pode manifestar-se em qualquer idade e em ambos os sexos, sendo igualmente frequente nos homens e nas mulheres. Pode ainda existir em bebés pequenos, designando-se como psoríase infantil. Curiosamente as pessoas de pele negra são muito menos suscetíveis a apresentar esta doença.

História

 

A palavra psoríase deriva do grego (psora), que significa prurido, isto é, comichão. Antigamente, por vezes, era confundida com outra doença de pele, a lepra, mas que contrariamente a esta não é altamente contagiosa. Esta doença é conhecida há bastante tempo, sendo que o primeiro documento encontrado data de 1550 a.C. e encontrava-se num dos tratados médicos mais antigos, o papiro de Ebers (ver fig. 1). Este mencionava uma pequena descrição e possíveis tratamentos. Nesta altura porém ainda permanecia uma dificuldade de distinguir esta doença e a lepra, havendo então isolamento e rejeição de quem apresentava estes sintomas. Eram por isso classificadas em conjunto. Mais tarde, Hipócrates, pai da medicina, a 460-375 a.C. classificou-a (assim como à lepra) com sendo uma doença seca e descamativa. No entanto, só mais tarde é que foi denominada por Cláudio Galeno (133-200 d.C.) que lhe chamou pela primeira vez, psoríase.

No início do século XIX Robert Willan caracterizou todas as suas variantes clínicas, sendo que existem oito. Definitivamente em 1841 Ferdinand Karl Franz Schwarzmann, um dermatologista Austríaco, separou a psoríase da lepra.

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Fig.1- Papiro Ebers exposto na Biblioteca da Universidade de Leipzig.

Etiologia

 

Pouco se sabe acerca da origem da psoríase pois muitos fatores podem contribuir para o seu aparecimento. Assim, por se tratar, de uma patologia fatorial pensa-se que surja no contexto de uma pré-disposição genética associada a um estímulo externo. No entanto, como referimos, existem muitos fatores desencadeantes que podem levar ao início da doença ou ao agravamento dos sintomas, tais como o fenómeno de Koebner (caracterizado pelo aparecimento de lesões cutâneas típicas de uma dada dermatose inflamatória numa área onde a pele foi ferida por agentes mecânicos, químicos ou biológicos), queimaduras solares, infecção pelo HIV, infecção por estreptococo beta-hemolítico (espécie de bactéria, que neste caso provoca a doença numa das suas versões, na psoríase gutata), e substâncias presentes em alguns medicamentos, stress físico ou emocional, infeções bacterianas ou virais, gravidez, traumatismos, consumo de álcool, tabaquismo e obesidade.

Diagnóstico da psoríase

 

Regra geral, o diagnóstico da Psoríase é feito por um dermatologista, numa consulta onde o médico analisará cuidadosamente toda a superfície da pele, principalmente as áreas que são mais propícias ao desenvolvimento da doença. No caso do médico não conseguir formular o diagnóstico exato, proceder-se-á à retirada de uma amostra de pele lesionada que posteriormente será analisada. A biópsia também pode ser utilizada como método de diagnóstico caso haja a possibilidade de se tratar de outra doença com sintomas semelhantes. Diagnosticada a Psoríase, será avaliada também a gravidade da doença com base nos sintomas.

Muitas vezes os “sintomas” da Psoríase passam despercebidos e surgem como já referido, por exemplo, sob a forma de caspa, artrite, dormência, entre outros, deste modo é importante que caso haja alguma suspeita da doença se proceda à marcação de uma consulta.

Sintomas

 

Os sintomas variam consoante o tipo de psoríase, podendo ser considerados ligeiros (80% dos casos), moderados ou graves, em função da extensão de pele afetada. No entanto, a doença costuma ser detetada pelo aparecimento de placas vermelhas com uma textura saliente, rugosas, cobertas por escamas brancas que correspondem a células de pele mortas. Estas feridas ocorrem com maior frequência em zonas de fricção, como os joelhos, cotovelos, articulações, couro cabeludo, unhas e região lombar. Os sintomas podem variar entre comichão, alterações nas unhas como a formação de sulcos ou ficando com unhas frágeis e quebradiças. Podem ainda nas feridas desta doença existir a formação de bolhas com pus.

Tipos de psoríase

 

Esta doença manifesta-se de diferentes maneiras e por isso existem diversos tipos de psoríase, mais concretamente, oito. Também é possível apresentar vários tipos de psoríase em simultâneo.

 

Psoríase vulgar ou Psoríase em placas

É o tipo mais comum da doença. Qualquer parte do corpo pode ser afetada. Nos casos mais graves afeta uma grande área do tronco e dos membros e nos casos ligeiros, aparece nos joelhos (fig. 2), nos cotovelos (fig. 3), na região lombar e no couro cabeludo. Esta última zona surge em cerca de 80% dos doentes. A manifestação visível da doença é a formação de placas vermelhas cobertas por células mortas que adquirem uma disposição em escamas brilhantes. Também se verifica a presença de caspa e prurido nas áreas lesionadas. Este tipo surge e desaparece espontaneamente dependendo dos fatores que desencadeiam esta patologia.

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Figs. 2 e 3

Psoríase Gutata

Afeta sobretudo crianças e jovens, e é desencadeada na maior parte das vezes por uma infeção nos estreptococos. É caracterizada pela presença de pequenas manchas encarnadas em forma de gota (fig. 4), que surgem na maior parte dos casos de forma súbita e geralmente ocupam áreas extensas.

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Fig. 4

Artrite psoriática

Variante da doença que afeta principalmente as articulações dos dedos das mãos e dos pés (Figs. 5 e 6), e a coluna vertebral. Estima-se que 10- 30% dos indivíduos com psoríase possuam este tipo. Neste tipo de psoríase, uma das mais debilitantes, as articulações enrijecem, inflamam e provocam dor e desconforto no doente, para além disso, as articulações das mãos, dos pés, dos membros ou da coluna vertebral ficam deformadas.

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Figs. 5 e 6

Acrodermatite contínua de Hallopeau

Manifesta-se nas extremidades distais dos dedos (figs. 7 e 8) ou joelhos, algumas vezes num só dedo. É substituída por escamas e crostas ao regredir.

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Figs. 7 e 8

Psoríase eritrodérmica

Início gradual ou repentino de eritema difuso, geralmente nos pacientes com psoríase em placas (possivelmente a primeira manifestação de psoríase eritrodérmica); placas de psoríase típicas são menos proeminentes ou ausentes. Pode aparecer nos antebraços (fig. 9). Mais comumente desencadeada pelo uso inadequado de corticoides tópicos ou sistêmicos, ou fototerapia.

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Fig. 9

Psoríase pustulosa generalizada

Início súbito de pústulas estéreis e eritema disseminados, que podem aparecer no rosto, tronco, bescoço, costas, e noutras partes do corpo, sob a forma de delicadas escamas com intenso eritema e pústulas rotas (fig. 10), ou de placas eritematosas descamativas margeadas por grande quantidade de pústulas (fig. 11).

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Figs. 10 e 11

• Psoríase invertida

Surge em áreas intertriginosas (geralmente em regiões sensíveis como os glúteos, axilares, inframamárias (fig. 12), dobras auriculares ou no pénis). Não é muito notória a presença frequente de escamas.

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Fig. 12

Psoríase ungueal

Pode assemelhar-se a uma infeção fúngica, surgindo como forma de sulcos, manchas, pigmentação e desgaste das unhas (fig. 13), com ou sem espessamento e com ou sem descolamento da lâmina ungueal (onicólise). Afeta 30–50% dos pacientes com outras formas de psoríase

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Fig. 13

Psoríase pustulosa das palmas das mãos e plantas dos pés

Placas hiperqueratósicas discretas nas palmas das mãos e/ou plantas dos pés (fig. 14) que tendem a se tornar confluentes. Pode levar ao aparecimento gradual de pústulas profundas e a surtos que podem ser dolorosos e incapacitantes. Neste caso as lesões típicas de psoríase são em geral ausentes.

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Fig. 14

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Fig. 15-Observação ao microscópio de diferentes manifestações da psoríase.

Tratamento da psoríase

 

O tratamento desta doença deve ter em conta o perfil de cada indivíduo e caso, bem como o grau da doença que nele se gera.

Através do diagnóstico de um dermatologista, é possível uma abordagem positiva no seu combate.

As receitas prescritas e monitorizadas para o tratamento, dependendo do caso em questão, podem ser soluções orais, tópicas ou mesmo injeções. Entre outros, alguns exemplos são: corticoides; vitamina D; Ácido salicílico; Tazaroteno; Tacrólimus e Pimecrólimus; Radiação ultravioleta (fototerapia); incluindo imunossupressores como ciclosporina ou metotrexato;

Embora muitos pacientes tenham preferência por opções mais caseiras e de origem natural no tratamento da psoríase, é sabido que o doente nunca se deve automedicar, sob pena de poder agravar o seu estado de saúde.

Em caso de dúvidas ou agravamento dos sintomas deve procurar o seu médico dermatologista (especialista em doenças da pele).

Qualidade de vida em pacientes com psoríase

 

Muitas vezes as lesões físicas desta doença podem relacionar-se com a vertente psicológica e social da pessoa, podendo, em alguns casos, afetar a autoestima ou até causar um certo isolamento social. Dependendo do diagnóstico apresentado pelo médico e a sua gravidade, o paciente afetado poderá eventualmente ter de levar baixas profissionais o que pode gerar maior dificuldade em manter um trabalho, com as consequentes repercussões económicas. Por todo este cenário que contém o perfil de vida do paciente, é importante para além do diagnóstico clínico da doença uma avaliação psicossocial adequada.

Contudo, como é uma doença crónica, em geral, o paciente aprende a viver com esta mesma, sendo que para além dos cuidados que deve ter e com a respetiva receita médica consegue viver normalmente a sua vida.

Testemunho de um paciente com Psoríase

 

“O tipo de Psoríase que tenho não é muito limitativa, uma vez que não possui uma forma muito grave da doença. A psoríase afeta-me especialmente a região da cabeça e provoca caspa e muita comichão. Perante isto só posso usar um tipo de champô para o cabelo que só é possível adquirir na farmácia. Este chama-se Alphacèdre. Ambientes com muito pó, por exemplo, provocam-me um agravamento dos sintomas. Desta maneira, temos sempre o cuidado de utilizar bons colchões de cama e lençóis para evitar ácaros e limpamos regularmente o pó em casa.”

 

Anónimo

Realizado por: Benedita Furtado, Carmo Pinto Basto, Joana Jerónimo.

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